segunda-feira, 18 de julho de 2011

Harry Potter e as relíquias da morte parte 2


Foram 8 filmes em 10 anos numa das maiores empreitadas artísticas e comerciais de todos os tempos e em todas as artes. A saga cinematográfica de Harry Potter pode, por algum motivo que desconheço, não agradar a todos, mas é impossível negar que é um dos marcos da história do cinema.

A saga de Harry Potter não marcou uma geração apenas pelo seu mundo fantástico, por sua magia e beleza, nem mesmo somente pela inegável inventividade da autora que criou a história, mas também, e digo por mim que principalmente, por seus personagens e David Yates sabia disso e em cada momento do filme ele nos deu isso, aquelas pessoas tão queridas para nós, no momento mais importante e significativo de suas vidas.
O filme não é perfeito, como nenhum dos 8 filmes foram, todos desde que Cuaron assumiu tem alguns erros, embora muito mais acertos, e nesse último não é diferente, dito isso falarei dos erros primeiro, pois são menores e mais rápidos.

David Yates tem um problema que persiste desde seu primeiro filme na franquia, ele é muito frio e pouco emocional, ele remediou um pouco sua frieza no Enigma do Príncipe e ela quase abandonou o contemplativo As Relíquias da morte parte 1, mas na segunda parte do fim da franquia, sua frieza retorna um pouco. Não é difícil ver as pessoas chorando dentro do cinema, mas é provavelmente por estar testemunhando o fim, do que por ter sido provocada emocionalmente pelas imagens na telona, exceto talvez o epílogo do filme, que leva os olhos a lacrimejarem um pouco, embora muito mais por seu significado emocional do que por sua concepção artística, apesar dessa concepção ter colaborado muito.

O segundo grande problema do filme é sua estrutura, bem na verdade ela não existe, a decisão de dividir o filme em duas partes foi ao mesmo tempo funcional e prejudicial, enquanto muitos reclamaram da primeira parte do filme ser contemplativa e parada demais, nesse novo filme a narrativa é corrida demais, é como se nós estivéssemos assistindo a um filme que só tem o terceiro ato, provavelmente assistir as duas partes em sequencia, sem pausa alguma, deve ser uma experiência sem par para os fãs.
Fico também em duvida se estou feliz ou triste pelos filmes terem acabado, pois a estética de Yates ficou cada vez mais aguda desde que ele assumiu a série, e ela chegou a tal ponto que estava desgastada, serviu perfeitamente para esse filme, mas se tivéssemos mais um pela frente, provavelmente seria repetitivo ver o filme novamente guiado pelo mesmo diretor da mesma forma como ele fez até agora, e isso ao mesmo tempo seria algo que me perturbaria, pois conflitantemente não gostaria que ninguém mais tocasse no filme.

O roteiro de Steve Kloves continua furado, como sempre, a escala de furos de roteiro aqui é menor, pois tudo esta incorrendo em um único caminho, mas certas coisas aparecem do nada, sem explicação alguma, e certas coisas são tidas como certas e já conhecidas do publico geral, é notável a tentativa de Kloves em não usar diálogos expositores, como um Shyamalan nem pensaria duas vezes em fazer, mas deixar algo mal explicado também não era uma boa opção. 
A frieza de Yates pode banalizar algumas mortes importantes, eu não li o último livro, embora soubesse 99% do que aconteceria, mas fiquei chocado ao ver dois personagens que eu adorava, mortos, e eu simplesmente os vi no chão por um segundo e nada mais foi dito, mas em compensação isso valoriza todo o resto, dificilmente um diretor comum, como Mike Newell (do ótimo 4° filme.) faria um filme tão sério como esse. A maioria estaria tentada a arrancar lágrimas fáceis do publico e tudo descambaria para o melodrama (imaginem a choradeira que seria com Spielberg na direção.), ou talvez nas mãos de outro o filme descambaria para uma ação descerebrada e sem fim.

A melancolia do filme é quase palpável, a câmera do diretor permite que vejamos o quão triste é tudo aquilo, e como aquilo é importante, não existe comemoração na vitoria, não existe adrenalina na batalha, existe pavor, sobreviver é tudo o que conta, e o resultado do que aconteceu e sempre doloroso. E por imprimir esse realismo em um mundo tão fantástico quanto aquele o diretor merece todos os elogios do mundo. 
Certas cenas são memoráveis, e muitas delas estão dentre as melhores de toda a série, a professora Minerva participa da maioria delas, e é interessante ver como essa personagem que tinha sido esquecida, voltou com toda a força. E se é para falar de personagens, vamos começar por Draco Malfoy, que estava se tornando mais interessante a cada filme e aqui chega ao ápice, lutar contra si mesmo, especialmente no seu caso, deve ser algo dos mais difíceis que alguém ali poderia passar, embora não tão difícil quanto tudo o que Severus Snape passou. 
Se vocês leram as outras críticas vocês devem ter percebido que eu tenho um carinho especial para Severus Snape e para Alan Rickman (como eu acho que qualquer fã tem.), com certeza é o meu personagem preferido, e o que é o trabalho de Rickman nesse último filme, acho que perfeito não é dizer tudo, como sempre falando cada palavra como se fosse algo importantíssimo, afinal depois que tudo é explicado fica claro que tudo o que ele diz pode custar a sua vida ou o trabalho de sua vida se não for corretamente mensurado. Seu personagem é de uma beleza e de uma complexidade sem par e as memórias dele mostram isso de forma perfeita em tela, Severus era até mais honrado que Dumbledore no fim de tudo, e eu sei que é quase impossível de acontecer, mas me agradaria muito uma indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante para Alan Rickman.
Essa indicação também poderia vir para Ralph Fiennes, coisa que também me deixaria feliz, é interessante como os vilões, ou no caso de Snape os supostos vilões, são sempre personagens mais interessantes, Ralph Fiennes e Helena Bonham Carter estão incríveis em seus papeis, e seus personagens são dos mais memoráveis. 
A participação de Carter como uma Hermione depois de tomar a poção polissuco é uma das coisas mais hilárias do filme. Que apesar de ter seus momentos de comedia perde um pouco esse lado e se apega mais aos momentos catárticos, como o tão esperado beijo entre Ron e Hermione que arrancou gritos e aplauso da platéia, ou quando Neville finalmente mata a Nagini em uma das cenas mais heróicas do cinema recente.

Jim Broadbent, Emma Thompson e tantos outros aparecem aqui como ponta apenas, mas é sempre bom vê-los, alguns personagens fazem falta, mas é compreensível que não houvesse espaço para todos, mas as muitas referencias aos outros filmes da série deixam um sorriso no rosto de qualquer fã mais detalhista, como a flor que nasceu no primeiro beijo de Harry, o esqueleto do Basilisco ou ainda os Diabretes da Cornualha dentre muitos outras referencias escondidas aqui e ali.  
A direção de arte ficou mais competente do que nunca, afirmo até que fora um filme ou outro de Tim Burton, e outros como Desventuras em Série e filmes desse tipo, nenhum outro filme se compara em direção de arte com os últimos Harry Potters, chegando ao ápice nesse último filme da saga. A maquiagem também está perfeita, assim como os efeitos sonoros. E os efeitos especiais são os melhores vistos desde que... inventaram o cinema, tudo esta perfeito na produção e na técnica e ao lado de Senhor dos Anéis, Harry Potter alcançou o nível de melhor franquia em quesitos técnicos da história.

E se eu disse que a trilha sonora de Alexandre Desplat ficou excessivamente genérica na primeira parte de As relíquias da morte, nesse segundo filme é totalmente o oposto, a trilha de Desplat está vigorosa, melancólica e de um lirismo tocante e não deve nada a magistral trilha de Nicholas Hooper para O enigma do príncipe. (para mim ainda é a melhor trilha sonora da série.)
E o que falar do nosso trio preferido de personagens, Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint estão novamente perfeitos em seus papeis, mas se antes Rupert Grint roubava a cena, e se na primeira parte de Relíquias da morte a Emma Watson levou parte da cena, aqui foi a vez de Radcliffe realmente brilhar, apesar de estar cercado de excepcionais atuações como a de Alan Rickman, Ralph Fiennes, Helena Bonham Carter, Maggie Smith e outros, nenhum deles ofuscou em nenhum momento nosso protagonista, fazendo aqui o seu melhor trabalho até o momento e provando que mesmo que alguns duvidem, tem muito pelo frente.
Mas se tem alguém cujo trabalho futuro eu quero acompanhar é mesmo o de David Yates, se ele exibir o mesmo esmero e carinho para seus próximos filmes como ele exibiu nessa franquia ele será um dos melhores diretores da atualidade. Ele pode não ter corrido para o drama fácil e nesse caso necessário que todos esperavam para nos fazer chorar, mas como eu disse antes a última cena do filme é tão bela e solene, apesar de simplista, que levará qualquer fã as lágrimas, e apesar de por si só a cena ser emocionante apenas pelo seu texto, a forma como ele a transformou em imagem foi impecável.

Eu gostaria de prolongar ainda mais esse texto, para sentir ainda um último gosto de Harry Potter em minha mente, é difícil aceitar que acabou, mas esta na hora de deixar partir essa que podemos dizer que foi a maior (digo maior e não melhor) saga do cinema.

Então para terminar, se vocês querem uma definição do que é esse último filme, esqueçam a banalização atual da palavra ÉPICO que a internet e suas enormes variações de memes e manias vem promovendo e pensem no real sentido da palavra, Harry Potter e as relíquias da morte parte 2 é isso, épico e talvez lírico.
Só o que resta a dizer é obrigado Alfonso Cuaron por ter inovado uma série que não parecia ter um grande futuro artístico, obrigado Mike Newell por ter nos brindado com um bom capitulo no melhor estilo High Fantasy possível, obrigado até mesmo a Cris Columbus que apesar de tudo iniciou essa franquia de uma forma quase satisfatória, obrigado a Steve Kloves que mesmo com seus roteiros problemáticos mostrou uma dedicação incrível e fez o melhor que pode em todos os sentidos para a série, e obrigado principalmente a duas pessoas, primeiro David Yates por ter dado a visão definitiva, sombria e realista do que é Harry Potter nos cinemas e por ter nos dado os melhores filmes de fantasia dos últimos anos, e por último obrigado a maravilhosa J.K.Rowling, pois sem ela nada seria possível.


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