"A Chave de Sarah" relembra massacre de judeus franceses durante a ocupação nazista
- Cena do filme "A Chave de Sarah", de Gilles Paquet-Brenner
SÃO PAULO (Reuters) - Norte-americana radicada em Paris, a jornalista Julia Jarmond (Kristin Scott Thomas) começa a pesquisar um episódio pouco divulgado da perseguição antissemita na França - a tragédia do Velódromo de Inverno, ocorrida em julho de 1942, quando cerca de 13 mil judeus franceses - homens, mulheres e crianças - foram arrancados de suas casas e amontoados no velódromo por cinco dias, sem comida, com pouca água e sob assustadoras condições higiênicas.
A história deste genocídio, conduzido pelo governo francês de Vichy, e a trajetória pessoal da própria jornalista entrelaçam-se no enredo de "A Chave de Sarah", sexto filme do diretor francês Gilles Paquet-Brenner, que assina também o roteiro, ao lado de Serge Joncour, adaptando o best-seller homônimo de Tatiana De Rosnay.Alguns se suicidaram ali mesmo, outros foram mortos tentando fugir. Os demais foram enviados a campos de concentração como Drancy e Auschwitz. Poucos voltaram.
A chave em questão pertencia, em 1942, à pequena Sarah Starzynski (Mélusine Mayance, de "Ricky"). Pouco antes da invasão de seu apartamento por policiais que, finalmente, arrastariam toda a sua família ao velódromo, Sarah tenta salvar o irmão caçula, trancando-o num armário e instruindo-o para que fique em silêncio, esperando sua volta para libertá-lo.
Nos dias que correm, Sarah e os pais (Natasha Mashkevich e Arben Bajraktaray), desesperam-se, além da penúria e do encarceramento, com a sorte do pequeno que ficou para trás. Habilmente, o diretor administra as informações sobre esta história dilacerante, mantendo o coração do público em suspenso.
Paralelamente, no tempo presente, a investigação da repórter abre flancos inesperados para ela própria. Morando em Paris com o marido francês, Bertrand (Frédéric Pierrot), e a filha adolescente, Julia está prestes a se mudar para um pequeno apartamento no bairro do Marais, pertencente à família do marido - local onde ela descobre uma ligação com a história de Sarah.
Embora armado, notoriamente, para atrair o grande público e, por isso, acumulando detalhes sentimentais que o mantenham fisgado, "A Chave de Sarah" tem mais qualidades do que defeitos. Acontecendo simultaneamente em duas épocas e engajando novos personagens a cada momento, a narrativa é envolvente.
O público descobre, junto com Julia, o destino de Sarah e sua família. Não se deixa de colocar, igualmente, o clima e o contexto de um período que a França certamente preferia esquecer, mas sobre o qual o próprio presidente Jacques Chirac rompeu o silêncio, num discurso de julho de 1995.
Uma das razões para esta eficiência narrativa, sem dúvida, reside na interpretação ao mesmo tempo sutil e cativante de Kristin Scott Thomas, atriz inglesa que vive na França há cerca de 30 anos e fala um francês perfeito. Uma boa surpresa no elenco é o ator norte-americano Aidan Quinn, hoje uma presença mais comum em séries de TV como "Canterbury Law" do que nas telas, que em 1994 atuou com Brad Pitt em "Lendas da Paixão".
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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