terça-feira, 3 de maio de 2011


 Água para Elefantes

27 de abril de 2011


Água para Elefantes, de Francis Lawrence, por apresentar estrutura narrativa na qual o personagem principal conta uma história marcante ocorrida no passado, tem a necessidade urgente (e obrigatória) da presença de um ator talentoso, capaz de oferecer ao protagonista osingredientes emocionais necessários para torná-lo crível em sua, então, árdua e surpreendente jornada. Robert Pattinson não é esse ator. A caracterização pífia não enterra o filme que tem lá seus méritos, mas contribui decisivamente para diminuir o potencial dramático da obra. E isso não é pouco. Faltou um fio para o fracasso.

Baseado no romance homônimo de Sara Gruen, a história trata da guinada inesperada na vida de JacobJankowski (Robert Pattinson), um jovem adulto estudante de Veterinária que após perder seus pais e encontrar-se arruinado financeiramente durante a Depressão, foge sem rumo disposto a “não olhar para trás”. Ao entrar no trem de um circo itineranteJacob torna-se membro da ‘comunidade circense’ e tem que lidar com desafios ao se apaixonar pela encantadora da elefanta RosieMarlena(Reese Whiterspoon), esposa de August (Cristoph Waltz), o dono do circo, um homem que  tenta transparecer cordialidade, mas é extremamente autoritário e cruel, no trato com seres humanos e animais.

E é na figura maléfica de Água para Elefantes que se encontra uma das principais qualidades do longa.Christoph Waltz concebe com maestria um vilão que em uma simples conversa demonstra-se debochado, irônico e impiedoso, com o correto alternar de semblantes e mudanças no tom de voz. Sem uma gota de remorso, August é capaz de jogar artistas considerados ‘inúteis’ de cima do trem para não ter que pagá-los, e assim garantir o devido lucro ao circo; da mesma forma que maltrata a elefanta com extrema fúria.

Vale destacar a eficiente sequência em que, dentro de um vagão, desfere uma surra no animal, que berra desesperadamente. Os golpes de fato não são mostrados, o que reforça o efeito dramático da situação, pois é extremamente forte e comovente ouvir a ‘espécie de clamor de socorro do animal’ enquanto o vagão balança. É bom lembrar que o diretor Francis Lawrence, em Eu Sou a Lenda, também dirige uma cena triste envolvendo um animal; no caso específico o cão parceiro do personagem de Will Smith.



Será que Lawrence dirige animais melhor que seres humanos? Neste caso, em termos. Embora seja impossível crucificá-lo pela atuação desastrosa de Robert Pattinson, a direção faz de tudo para esconder quaisquer que sejam as demonstrações ‘faciais’ de emoção do ator. Em certa situação, após receber a notícia da morte dos pais, Jacob, estranhamente sereno e frio, encara o vazio – até aí o plano mostra o vácuo inexpressivo do olhar do ator – mas no corte seguinte, no qual Jacob aparece vomitando, possivelmente inconsolável com a situação, somente a imagem sombreada do personagem aparece; nenhum olhar, nenhuma lágrima. 

Na maratona de sentimentos, resultado de situações tensas consequentes do convívio com o imprevisível August, o exaspero de Jacob seria, minimamente, verossímil. Mas a direção teima em filmá-lo com uma frieza incomum. Nos momentos de embates físicos, por exemplo, a testosterona é mínima. Tive a impressão que, por reconhecer as limitações do astro, o diretor quis poupá-lo. Será? 

O romance entre Marlena Jacob, para incrementar a sequência de equívocos, é concebido de maneira artificial e jamais empolga, por causa da escassa química entre ambos. O vilão August e a elefanta Rosiesão os melhores personagens de Água para Elefantes, um filme cujo desenrolar da história não é ruim. Infelizmente pagou-se um preço altíssimo por ter como ‘condutor’ desta trama um ator que transformou, justamente o ‘protagonista’, no personagem menos interessante da obra.



Água para Elefantes (Water for Elephants) – 122 min
EUA – 2011
Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Richard LaGravenese – Baseado no romance de Sara Gruen
Elenco: Reese Witherspoon, Robert Pattinson, Christoph Waltz, Paul Schneider, Jim Norton, Hal Holbrook, Mark Povinelli

Estreia: 29 de abril.

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