quarta-feira, 11 de maio de 2011


DISNEY e suas polémicas? 

Acredito ser uma falta de discernimento e de senso crítico gigantesca se criticar a Disney pelo fato de ela, em seus desenhos, apresentar um mundo “bom” e bonito, onde tudo é ”simples”, tendo que, para isso, muitas vezes, se modificar drasticamente certos contos originais. Ora, por favor, convenhamos, o público alvo da Disney são as crianças. Não existe razão para se querer frustrar crianças que nem noção de mundo ainda tem e que nem apresentam discernimento para entender a vida e seus fenômenos.
Mostrar a sereiazinha, apesar de ter feito de tudo, não realizando seu sonho de se casar com o príncipe e ainda morrendo no final seria simplesmente fazer a criança chorar, e de graça, já que tal história não suscitaria nenhum aprendizado, já que a criança nem bem tem base ou experiência para interpretar, entender e tirar um conteúdo disso que a faça crescer. Acredito ser muito mais proveitoso e didático se mostrar a sereiazinha lutando por um sonho, abrindo mão de várias coisas que ama por algo que deseja muito em sua vida, e, no final, atingir seu objetivo. Claro, sei que essa idéia é fundamentada em ideologia, mas, em todo caso, não se pode dizer que não seja construtiva, já que trabalhará de modo a incentivar a criança a visar aquilo que quer e agir para tanto, sendo esta a única maneira de conseguir. Essa idéia é bastante educativa à meu ver, mostrando à criança as dificuldades da vida, mas, ao mesmo tempo, a possibilidade de vencê-las. Tal mensagem semeará na pessoa uma vontade de saciar seus desejos, que, em seu entender e a partir do filme, somente poderá vir acompanhada de atitude.
“Ah, mas e o final feliz que a Disney tanto preza? A a vida não tem só final feliz!” Não. A vida não tem só final feliz, mas a esperança de que ele existe é o que permite ao homem prosseguir, já que faz parte da natureza humana a ilusão, a fantasia. É ela que, no final das contas, impulsiona o ser humano a agir, a viver de fato, o livrando de um marasmo contínuo, que, inevitavelmente, culminará em depressão e talvez mais.
Em todo caso, a Disney não mostra somente o sonho e o lado belo da vida. Se fosse assim, não haveria os vilões, que estão sempre a atormentar a vida dos mocinhos e protagonistas, representando, na realidade, os baixos da própria vida.
Simba tem que lidar com a morte do pai. Não vejo realidade triste mais possível de se acontecer na vida de uma criança. Em todo caso, obviamente Simba se recupera do trauma, e dá a volta por cima. Claro, né? Não queriam vocês , além de tudo, que o pobre leãozinho acabasse prejudicado, morto, ou sei lá o que também, não é? Aí já é demais…A criança entraria em tristeza e sem  perspectivas para sair dela.
Produtos para crianças devem ter conteúdos amenos e nada drásticos, para não causar um impacto negativo na criança. Deve-se, através deles, de sua simplicidade, passar uma mensagem construtiva e de fácil apreensão, que deve vir acompanhada de uma estética bonita, colorida, sendo isso o que chama a atenção da criança, ajudando mais ainda a aceitação e o entendimento do conteúdo, que é priorizado ao público infantil, já que ele apresenta um grande potencial de aprendizagem.
 Conteúdos originalmente radicais foram criados em contextos diferentes, em sua grande parte, na era medieval, quando o intuito da vinculação daqueles contos, daquela historia era outro bastante diferente. Hoje em dia, com o desenvolvimento intelectual que temos, com a sociedade estruturada da forma que está e com a concepção de mundo que temos é uma besteira muito grande se cogitar apresentar conteúdos como esses às crianças. No conto original de “Cinderela”, por exemplo, as irmãs, ao experimentarem o sapato que o príncipe trazia para ver se serviam, têm um pedaço dos próprios pés cortados para que o sapato caiba. Qual seria a reação de uma criança assistindo à uma cena desta? Qual o intuito de se apresentar uma cena desta? A questão do sacrifício em prol de algo que se quer?  Vamos combinar que não é preciso tanto para isso, não é? Tal cena mais repeliria as crianças do que propriamente as impactaria de forma a ensinar algo.
A partir disso, se você disser que a Disney é mercenária e só quer vender produtos, ilusão sua. Todos querem. A questão é que isso pouco importa. Ou o produto é bom ou não é.
Além de ser muito boa tecnicamente, a Disney tem um conteúdo muito educativo. Claro, não sou ingênua a ponto de dizer que ela é livre de qualquer vinculação tendenciosa, também não é por aí. Mas em todo caso, “Pocahontas”: A paz é sempre o melhor caminho; “A Pequena Sereia”: Lute pelos seus sonhos; “O Corcunda de Notre Dame”: O preconceito é um mal caminho, e assim por diante. Enfim, dada essa idéia, só lhes ouso pedir uma coisa: Por favor, não se prendam a uma análise crítica que já nasce morta. É errado se subestimar qualquer produto artístico com o pensamento adorniano de que este puramente cumpre um valor comercial, sendo desprovido de potencial artístico. Há sim toda uma estrutura de planejamento, que não é só comercial, em torno de uma produção cultural, quanto mais se tratando de Disney. Há um estudo, há um porquê, há um intuito, há um valor … mesmo cobrado, nada é de graça.



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