"Pânico 4"
Neve Campbell em "Pânico 4": personagem leva nova onda de assassinatos a sua cidade-natal |
A estreia de "Pânico" em 1996 mudou o panorama do cinema de horror em Hollywood. O gênero voltou a ficar na moda, a encher os bolsos dos estúdios e apresentou ao mundo a escrita esperta do roteirista Kevin Williamson. Cheios de referências a filmes de maníacos clássicos, diálogos rápidos e flertando com o humor e a ironia, os três filmes da série faturaram juntos US$ 507 milhões e angariaram uma legião fiel de fãs, em especial porque, por mais que tivessem uma postura engraçadinha, continuavam sendo uma fonte interessante de sustos e suspense. "Pânico 4", a retomada da franquia, chega aos cinemas de todo o mundo nesta sexta-feira (15) praticamente sem conflitos: é uma comédia deslavada.
De cara já se percebe o tom estabelecido por Williamson e a sensação é de conforto, familiaridade. Os personagens disparam frases inteligentes, sagazes, tem consciência dos estereótipos que representam e até mesmo das frequentes autorreferências de "Pânico" – "porcaria de metalinguagem", reclama um deles. Por fim, chega-se à cidadezinha de Woodsboro e nem parece que uma década ficou para trás. O universo criado pelo diretor Wes Craven, que nunca mais fez nada que preste, está lá, intacto. A famosa voz de Roger L. Jackson, responsável por dar vida ao assassino Ghostface, também.
Após anos de trauma e fuga, a heroína Sidney Prescott (Neve Campbell) está em Woodsboro para encerrar a turnê de divulgação de um livro de auto-ajuda campeão de vendas, em que conta como deu a volta por cima. Seu sucesso provoca o ciúme da repórter Gale Weathers (Courteney Cox, esticadíssima), enfim casada com o xerife Dewey (David Arquette) – está aí a trinca de sobreviventes dos filmes anteriores. Acontece que os amigos da adolescente Jill (Emma Roberts), prima de Sidney, começam a ser mortos e, aos trancos, a turma junta os pontinhos para descobrir que alguém está tentando superar os assassinatos do "Pânico" original. Irritada com a nova onda de crimes, a população e a própria família de Sidney a acusam de ser um "anjo da morte". Está instaurado o frágil drama de "Pânico 4".
Os tempos são os outros, e o filme tira graça disso. O maníaco deixa mensagens no Facebook, todos os personagens – todos – têm seu iPhone e há uma relação forte com a geração web 2.0, ávida por vídeos e informação em tempo real. Isso prova que não foram só os anos que passaram. Junto com os fãs antigos, uma nova geração inteira está pronta para consumir a franquia e, da mesma forma, tem total consciência, talvez até mais, dos truques dos filmes de terror. A solução encontrada por Craven e Williamson foi vestir os clichês sem qualquer vergonha e o resultado é quase um pastiche. As risadas, aí, saem com facilidade.
O xerife Dewey nunca esteve tão pateta e a polícia, o triunfo da incompetência. O ingrediente "gore", a sanguinolência, está intensificada. Os personagens de "Pânico" sabem muito bem que não é inteligente andar sozinho com um assassino à solta e muito menos sair de dentro do carro numa garagem deserta e suspeita, só que agora eles fazem isso com uma inocência incrível. É o pastelão, portanto, ainda mais evidente no desfecho, digno de um final de episódio de "Scooby Doo" e com uma lição de moral medonha.
Fica difícil tomar um susto ou levar as mortes a sério e aí até fazem sentido os fanáticos pela ficção "Stab", que assistem aos filmes torcendo para Ghostface, vibrando com uma faca de plástico na mão – a opressão, o medo, dão lugar à festa, ao "terrir" consagrado por "Todo Mundo Quase Morto". Ainda mais que a autorreferência, marca registrada da franquia, nessas alturas já está no nível do puro deboche. "Pânico 4" é divertido? Sim, não há dúvida. Só não espere um filme de terror, e sim a comédia do ano.
Confira o trailer de "Pânico 4":
Fonte: Último Segundo
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