E o Eddie Murphy nos Oscars, hein? Confesso que estou apreensiva. E não sou só eu: passei os últimos dias fazendo a mesma pergunta a amigos, conhecidos e acadêmicos sortidos, e a resposta foi consistentemente a mesma: ninguém espera muito, na melhor das hipóteses; na pior, esperam um desastre. Ecos do ano-catástrofe de 1989 – aquele da Branca de Neve e Rob Lowe- já estão circulando pela cidade. E isso seis meses depois de um Oscar que, segundo alguns observadores, ficou com a duvidosa palma de pior. Oscar. De todos os tempos.
É sobretudo o potencial para essa dose dupla e consecutiva de horrores que me preocupa _ e não só a mim. Afinal não tenho nenhum interesse direto no evento além da paixão de fã de cinema e o dever de observadora profissional. “Este ano não me animo a brigar por ingresso”, me disse um acadêmico que é do tipo não-perco-uma.
A apreensão com a escolha tem dois motivos, infelizmente entrelaçados. O primeiro, e básico, é que a escolha foi feita por um produtor no qual, aparentemente, só a diretoria da Academia acredita: Brett Ratner, realizador de notória e, digamos assim, agressiva mediocridade. Sua nomeação como piloto dos Oscars este ano foi o primeiro susto ; certo que ele vem escorado pela experiência de seu co-produtor Don Mischer (Emmys, Comedy Awards, Billboard Awards), mas a reputação (ou falta dela) de Ratner foi o bastante para dar um susto coletivo na comunidade.
Aguardava-se, com a mesma reserva, sua escolha de apresentador. Os rumores de que ele estaria flertando com Oprah Winfrey já provocaram marolas _ Oprah, com certeza uma das pessoas mais poderosas do entretenimento, teria cacife suficiente como pessoa de cinema para ancorar a cerimônia?
E aí… Ratner convida Eddie Murphy, seu amigo e co-astro, ao lado de Ben Stiller (que teria sido, a meu ver, uma escolha melhor) do próximo filme do diretor, Tower Heist.
Murphy foi, depois de Richard Pryor, o comediante negro que mais abriu espaços na indústria, à custa exclusivamente de seu talento e de uma combinação perfeita de audácia, insolência e simpatia. Infelizmente, seus trabalhos mais recentes tem sido, à falta de uma definição melhor, patéticos (com exceção de sua participação em Dreamgirls, cinco anos atrás, torpedeada nos Oscars por sua atuação em Norbit, exemplo típico de onde ele anda desperdiçando seu talento).
Se os Oscars de 2012 tivessem outro produtor, mais criativo e com mais cacife junto a atores, sua escolha poderia ser super interessante _ como disse Dave Karger na Entertainment Weekly, seria muito bom que o evento marcasse a volta triunfal de um grande artista.
De todo modo, apresentar os Oscars é uma das tarefas mais ingratas da indústria _ as chances de tudo dar errado são muito maiores do que as de tudo dar certo. A maioria das estrelas de primeira linha foge dos convites exatamente pelo temor do possível impacto negativo em suas carreiras.
Vamos ver o que acontece em fevereiro…